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Durante anos, o debate sobre câncer de pulmão na sociedade se resumiu a reduzir ou acabar com o tabagismo. Pronto! Fim do problema, certo? Longe disso. Embora o tabagismo seja, sim, o principal fator de risco para a doença, como explicar que, mesmo com a redução nas estatísticas de fumantes no país desde o início do século, o número de diagnósticos, sobretudo entre os mais jovens, pareça ter seguido o caminho contrário?
O câncer de pulmão sempre foi e permanece sendo um grande desafio para a saúde no Brasil. Apesar dos avanços no tratamento e na ciência mundial, a doença ainda lidera as estatísticas de mortalidade por câncer no país, sendo o tipo mais letal.
Esse cenário exige uma reflexão mais profunda sobre as barreiras que impedem um enfrentamento mais eficaz, desde o diagnóstico até o acesso a terapias inovadoras.
Um dos principais entraves hoje, seja na rede pública ou na privada, reside no diagnóstico tardio. Cerca de 70% a 75% dos pacientes recebem o diagnóstico em estágios avançados, quando a doença já se espalhou para outros órgãos (metástase), o que reduz drasticamente as chances de cura.
Essa jornada mais longa até um diagnóstico correto impacta diretamente a sobrevida dos pacientes que descobrem a doença tardiamente, que hoje é inferior a 20%. A falta de um programa nacional de rastreamento, somada à baixa adesão aos programas de cessação do tabagismo – que, novamente, é o principal fator de risco para o câncer de pulmão –, contribui para a perpetuação desse ciclo de diagnóstico tardio e prognóstico desfavorável.
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Mas, embora o tabagismo seja responsável pela maioria dos casos, precisamos ir além nessa conversa, para não cairmos naquele debate simplista que mencionei no início do texto.
Temos observado nos últimos anos um aumento preocupante no número de pacientes que nunca fumaram e, ainda assim, desenvolvem a doença. Estudos internacionais, como o publicado pela The Lancet, mostram que precisamos desenvolver estratégias para ampliar o escopo das investigações e considerar outros fatores de risco, como a poluição atmosférica e o histórico familiar.
A complexidade do câncer de pulmão reside também no fato de se tratar de um conjunto de diferentes doenças, cada uma com características moleculares específicas. A medicina personalizada, com terapias-alvo direcionadas a essas alterações moleculares, como é o caso do selpercatinibe, terapia-alvo aprovada no ano passado pela Anvisa que age especificamente em tumores com essa alteração genética, representa um avanço significativo no tratamento, oferecendo uma opção terapêutica com maior eficácia e menos efeitos colaterais para um grupo de pacientes.
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No entanto, a implementação da testagem molecular, essencial para a equipe médica escolher a terapia mais adequada, ainda enfrenta desafios no Brasil, principalmente relacionados ao acesso e ao custo.
A ampliação do acesso a terapias-alvo mais avançadas para o tratamento de doenças desafiadoras é um passo decisivo. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) discute, neste mês, por meio de uma Consulta Pública, a incorporação de uma nova tecnologia na rede privada, para oferecer mais uma opção de tratamento a pacientes em estágios avançados que precisam de uma terapia-alvo mais eficaz.
Trata-se, portanto, de um passo importante para ampliar o acesso a tratamentos inovadores e reforça a necessidade de um debate amplo sobre a incorporação de novas tecnologias no sistema de saúde.
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Além da incorporação de novas terapias, é fundamental investir em estratégias de prevenção e diagnóstico precoce. A implementação de um programa nacional de rastreamento, com tomografia computadorizada de baixa dose em indivíduos de alto risco, aliada a programas eficazes de cessação do tabagismo, pode mudar o curso da doença – e, principalmente, a vida dos pacientes – no Brasil.
A detecção precoce aumenta significativamente as chances de cura e reduz a mortalidade, impactando positivamente na saúde pública e no custo econômico da doença para o país.
O câncer de pulmão exige um novo olhar. É preciso reduzir as estatísticas de diagnóstico tardio, investir em pesquisa e inovação, garantir acesso a terapias eficazes e, acima de tudo, priorizar a prevenção.
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Somente com um esforço conjunto, envolvendo médicos, outros profissionais de saúde, o governo e a sociedade, poderemos reverter esse cenário e oferecer aos pacientes uma perspectiva de vida mais longa e com qualidade.
* Guilherme Harada é oncologista clínico e Coordenador da Pesquisa Clínica do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo
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