Os investimentos no Tesouro Direto bateram recorde em junho, segundo dados publicados pelo Tesouro Nacional na última semana.
Foram investidos R$ 5,68 bilhões e resgatados R$ 3,27 bilhões, resultando em emissão líquida de R$ 2,41 bilhões.
O grupo de títulos mais demandado pelos investidores foi o indexado à inflação (Tesouro IPCA+, Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais, Tesouro RendA+ e Tesouro EducA+), cuja participação nas vendas atingiu 53,8%, somando R$ 3,06 bilhões.
Segundo especialistas ouvidos pela CNN, a alta se dá principalmente pelo Tesouro Direto possibilitar investimento em títulos que protegem o investidor da inflação.
Nas últimas semanas, as expectativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) se deterioraram continuamente diante da maior desconfiança dos investidores no compromisso fiscal do governo federal.
Além da busca por proteção, analistas apontam que o cenário de juros altos torna investimentos em renda fixa mais atrativos ante opções na renda variável, como o mercado de ações, vistas com maior risco.
Juliana Inhasz, professora do Insper, aponta para a Selic em dois dígitos como um dos vetores que aumentaram a demanda do mercado pelo Tesouro Direto.
Nesta quarta-feira (31), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) manteve inalterada a taxa básica em 10,5% ao ano pela segunda reunião seguida.
Apesar do recado mais duro no comunicado, as principais apostas do mercado estão pelo congelamento da Selic neste patamar, ao menos até o início do próximo ano.
“A perspectiva de queda para o ano que vem também está cada vez mais remota, porque a gente ainda tem pressões inflacionárias”, pontua.
Para ela, o sinal é de que os brasileiros estão preocupados com a inflação e isso reflete na busca por opções de baixo risco, como o Tesouro Direto.
“O brasileiro sabe que se a inflação subir, o poder de compra dele cai. Então é um sinal de que as pessoas estão mais preocupadas com a manutenção do poder de compra daqui para frente”, completa.
A analista de renda fixa da Empiricus Research, Lais Costa, explica também que os juros altos penalizam outros investimentos, o que leva a um aumento da demanda pela renda fixa no Brasil.
Segundo ela, o fluxo para a renda variável deve voltar apenas quando o BC retomar o ciclo de queda dos juros.
“Isso não está no nosso cenário desse ano, então a gente não espera que tenha uma reversão forte de fluxo para renda variável”, diz.
Sob o mesmo viés, Inhasz analisa que a expectativa é que o número de investidores do Tesouro continue crescendo ou, pelo menos, siga em alto patamar nos próximos meses.
Ela aponta que o cenário de incerteza do ponto de vista econômico do país torna esses títulos uma boa opção também para o futuro.
“Isso se soma ao fato da renda variável hoje não ser tão atrativa, porque os riscos estão altos e a gente tem um crescimento econômico baixo”, completa.
Quem deve investir?
Para a economista e professora da PUC-SP, Cristina Hellena Pinto de Mello, os títulos do Tesouro são uma aplicação interessante para todos, já que pode contar com um baixo investimento inicial.
Conforme indicado no portal do Tesouro Nacional, a quantidade mínima de compra é a fração de 0,01 título. Ou seja, 1% do valor de um título, desde que respeitada a quantia mínima de R$ 30,00.
“A minha sugestão é que as pessoas aprendam a aplicar com pouco dinheiro, para conhecer cada um dos títulos e saber como eles se comportam”, indica a Cristina Mello.
Em qual título investir?
A analista da Empiricus aponta que uma carteira equilibrada tem que ter todos os tipos de títulos.
Em linhas gerais, Costa aconselha que a pessoa física procure um retorno acima da inflação no longo prazo, já que a tendência é de aumento de gastos.
“É preciso descontar a inflação que o investidor terá de tudo que adquirir na vida. E a melhor forma de fazer isso é indexar ao índice de inflação nacional. Não é perfeito, mas é a melhor forma do investidor fazer isso hoje e é um instrumento simples de aplicar”, indica.
Vale destacar que existem três principais grupos de títulos do Tesouro. As economistas ouvidas pela CNN explicam a seguir as características mais importantes de cada um e para quem eles são mais indicados.
Indexado à inflação: segundo a economista Juliana Inhasz, este é indicado para quem quer a manutenção do poder de compra e para os brasileiros que têm um objetivo de maior prazo, como a garantia da aposentadoria.
“O ponto mais positivo do Tesouro direto para o IPCA é que ele garante sempre repor a inflação. O investidor sempre vai ter algo adicional em sobre esse recurso. Ele não apresenta, no geral, grandes ganhos, porque o valor pago além da inflação é relativamente pequeno, mas ele confere uma manutenção de poder de compra e possibilita um planejamento de mais longo prazo”, explica a professora do Insper.
Indexado à taxa Selic: esse é um bom investimento se a Selic for mais alta, apontam as economistas.
Em um cenário de alta da taxa e em conformidade com uma política monetária bem responsável, a inflação deve cair e o investidor deve ter um ganho efetivo maior em comparação com outros papeis, como o Tesouro IPCA.
“Ele é bem indicado para quem hoje aposta numa taxa de juros que vai subir ao longo do tempo. Esse é um título que, no atual cenário de incerteza, tem uma uma variabilidade de ganhos reais muito maior”, explica Juliana Inhasz.
Prefixado: este grupo permite que o investidor conheça antecipadamente o retorno nominal do seu investimento, como explica a economista Patricia Palomo, conselheira da Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar).
“Essa característica pode ser interessante para aquelas pessoas que possuem compromissos futuros cujo valor é conhecido e precisam garantir previsibilidade no vencimento de suas aplicações”, aponta Palomo.
Quanto investir?
A conselheira da Planejar indica que gastar menos do que ganha é um dos segredos para aumentar a capacidade de poupança.
“Tentar criar o hábito de poupar pelo menos 10% a 20% da renda corrente constrói um padrão de acumulação efetivo e que permitirá o crescimento do patrimônio ao longo do tempo”, indica.
No site do Tesouro Direto, é possível fazer uma simulação do investimento com base no título aplicado, na data em que ele foi investido e quando deve vencer.
Lá também deve ser informado o valor investido, bem como a taxa de rentabilidade e a taxa de administração do banco/corretora.
Para quem não domina o investimento, Cristina Mello indica um grupo que garante maior segurança.
“Quando você não sabe lidar com resgate e você vai precisar do dinheiro, o ideal é aplicar nos títulos que são pós-fixados. É a melhor opção, porque não importa o prazo e você vai conseguir resgatar o valor principal sem prejuízo.”
Como escolher a validade do título?
Embora os títulos do Tesouro Direto sejam facilmente negociados, as economistas indicam que é importante que o investidor opte por um vencimento correspondente ao prazo do objetivo buscado.
“Quanto mais longo o título, teoricamente mais retorno, mas você renuncia ao uso desse recurso por um período mais longo, e essa escolha depende muito do objetivo”, aconselha Inhasz.
Ela aponta ainda que, quando é algo com prazo mais definido, como o planejamento de uma viagem, é possível mensurar de forma mais objetiva a validade. Esse deve ser o principal critério de escolha do período de vencimento.
Como investir?
O site do Tesouro Direto indica o passo a passo de como investir.
Primeiro, é aconselhada a realização de uma simulação para que seja encontrada a melhor opção de título, conforme o perfil do investidor.
Depois, é preciso fazer o cadastro do Tesouro Direto diretamente nos bancos e corretoras habilitadas. A lista dessas instituições financeiras também pode ser encontrada no portal do Tesouro.
Os bancos e as corretoras, com isso, terão o papel de fornecer cadastro e senha de acesso do investidor no Tesouro Direto.
Em seguida, é indicado que o cidadão transfira o valor que deseja investir da conta bancária para a instituição financeira em que se cadastrou no Tesouro Direto.
Depois, já é possível investir pela plataforma da instituição escolhida, pelo portal do Tesouro ou até mesmo pelo aplicativo oficial dele.