Faria observa que a desaceleração da economia chinesa, maior país importador de grãos e principal destino das exportações brasileiras, pode se refletir no consumo de grãos. Do lado da oferta global também não há indicativos de sustentação para os preços dos grãos, com estoques mundiais elevados e safra recorde dos Estados Unidos. “A partir da entrada da safra nacional, os preços devem começar a cair. A velocidade e a intensidade da queda vai depender da demanda, mas tende a ser maior para a soja que para o milho”, pontua Faria.
Na mesma linha, o sócio-diretor da consultoria MB Agro, José Carlos Hausknecht, não acredita em baixa generalizada dos preços com uma demanda ainda sustentada, mas também não enxerga sinais para alta. O câmbio e a eventual retomada da guerra comercial entre Estados Unidos e China também devem direcionar os preços dos grãos brasileiros, observa ele.
“Não vemos riscos na oferta de grãos, sobretudo da safra da América do Sul, e nem mudanças significativas no balanço de oferta e demanda mundial, o que torna difícil a recuperação dos preços. As incógnitas são uma eventual retaliação chinesa aos EUA, que pode contribuir na precificação dos produtos agrícolas brasileiros e o patamar do dólar, se continuará ou não acima de R$ 6. São fatores que exigem cautela”, avalia Hausknecht.
No caso do milho, a queda tende a ser menor que a projetada para a soja em virtude da demanda local aquecida, segundo o gerente da consultoria Agro do Itaú BBA, Cesar de Castro Alves. “O balanço global de milho não é tão folgado quanto o da soja, além dos estoques limitados. A grande incógnita quanto aos preços do milho é a janela ideal para plantio da safrinha com as chuvas atuais no Centro-Oeste, que podem atrasar a colheita de soja e dar suporte à estabilidade dos preços do milho”, pondera Alves.
Já na pecuária, a tendência é de fortalecimento dos preços com demanda interna e externa aquecida e oferta restrita. Os valores da carne bovina, em especial, devem subir mais de dois dígitos, projetam os analistas. “Veremos a retenção de fêmeas ganhar tração neste ano e os preços do boi gordo e do bezerro subirem, com a forte virada de ciclo prevista para 2026”, aponta Alves, do Itaú BBA.
Os preços de carne de frango e suína podem se beneficiar do aumento da carne bovina, embora em menor medida, e também subirem apoiados pelo aumento da demanda relativa. “Os números são positivos para produção de carne suína e de frango”, destaca Alves. Para Faria, da Tendências, o consumo firme da carne bovina deve levar a uma alta expressiva dos preços do boi gordo no mercado doméstico, que tende a ser repassada ao consumidor final.