O futuro do tratamento do câncer passa pela epigenética

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O futuro do tratamento do câncer passa pela epigenética

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Saúde - Genética - DNA
Expressão dos genes: achados de novo estudo ajudam a delinear melhor plano terapêutico para pacientes com câncer de próstata (iStock/Getty Images)

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Nos anos 1970 e 1980, importantes pesquisas observacionais levaram a uma melhor compreensão da progressão gradual do câncer de próstata. Com o avanço dos estudos, os exames preventivos (como o PSA) tornaram-se populares devido ao seu potencial de evitar a progressão clínica e a morte relacionada à doença, que pode chegar a 21%.

No entanto, muitos pacientes diagnosticados precocemente possuem um tipo de câncer inofensivo, denominado “indolente”, que nunca ameaçaria a vida. Isso levou a um aumento do sobrediagnóstico – diagnóstico de malignidades que não afetarão ou matarão o portador durante sua vida – desempenhando um papel crescente e crítico.

Devemos lembrar, no entanto, que o câncer de próstata também pode ser agressivo e causar o óbito em menos de um ano após o diagnóstico. Devido a isso se denomina de doença maligna.

Estima-se que o sobrediagnóstico varie amplamente de 1,7% a 67% para o câncer de próstata. Isso resulta em tratamento excessivo considerável, especialmente por meio de intervenções radicais ou clássicas (radioterapia ou cirurgia) acompanhadas de sérios efeitos colaterais, como incontinência urinária e impotência sexual.

Para aliviar essa situação urgente, foi recentemente desenvolvido um estudo internacional batizado de EpihTERT, fruto da colaboração interdisciplinar internacional entre a urologia do Hospital Universitário da Universidade Positivo, em Curitiba, e a Universidade Heinrich Heine de Düsseldorf, na Alemanha.

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Ele se debruça sobre uma área de pesquisa emergente chamada epigenética, que avalia como os genes se expressam mais ou menos influenciados por questões ambientais e de estilo de vida.

A investigação internacional descreve o perfil epigenético específico das células tumorais do gene da telomerase, dissecado tanto no câncer de bexiga quanto no de próstata. A alteração epigenética significativa, denominada metilação do DNA, está associada ao câncer de próstata agressivo e pode ser avaliada de maneira precisa, confiável, sensível e rápida.

Pela primeira vez, uma abordagem especial de normalização foi desenvolvida e incorporada, permitindo a avaliação precisa do status de metilação, independentemente da complexidade genética observada no câncer de próstata precoce.

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Passado, presente e futuro

Em 1994, o cientista Jerry Shay destacou em suas pesquisas as estruturas vitais localizadas na ponta dos cromossomos, conhecidas como telômeros, e descobriu que eles são responsáveis por interromper o crescimento das células. Shay e colegas descobriram a atividade da enzima chamada telomerase, presente em mais de 90% dos cânceres humanos e ausente em tecidos somáticos humanos saudáveis.

Vários estudos confirmaram que esta enzima específica do câncer confere potencial de autorrenovarão infinita e desempenha um papel crucial na gênese (iniciação) e desenvolvimento do tumor.

Um extenso estudo sobre câncer de próstata demonstrou que a ocorrência da telomerase está associada a uma certa marca epigenética no DNA do gene correspondente. Modificações epigenéticas são grupos moleculares distintos quimicamente ligados ao DNA que determinam a atividade dos genes, tornando-os ideais para servir como biomarcadores moleculares.

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O estudo também mostrou que essas modificações moleculares do gene da telomerase preveem a recidiva no câncer de próstata e correspondem à invasividade, a razão pela qual o câncer é tão difícil de tratar.

Essas descobertas representam um grande avanço em relação ao tratamento excessivo do câncer de próstata. Tumores iniciais podem ser facilmente examinados com a tecnologia do estudo EpihTERT, e, na ausência da marca de metilação do DNA, a decisão de aplicar um procedimento terapêutico minimamente invasivo é facilitada para o paciente e seu urologista.

Os tratamentos minimamente invasivos, como o Ultrassom Focal de Alta Intensidade (HIFU), oferecem excelentes resultados no controle oncológico, com preservação significativa (muito bem comprovada) da função sexual e continência urinária, em comparação com procedimentos mais agressivos, como a prostatectomia radical.

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Assim, novos achados de pesquisa e terapias modernas, menos invasivas e agressivas, trazem avanços consideráveis para melhor avaliação e redução do tratamento excessivo. A relevância dessas descobertas é imensa para os pacientes, especialmente considerando que o número de casos de câncer de próstata deve aumentar em 136% até 2050.

* Marcelo Bendhack é uro-oncologista, presidente da Associação Latino-Americana de Uro-Oncologia e professor da Universidade Positivo, em Curitiba

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