Um especialista em relações internacionais apontou uma significativa discrepância entre a política externa e a política de defesa do Brasil, levantando questões sobre a coerência estratégica do país no cenário global.
Vitelio Brustolin, pesquisador de Harvard e professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF), destacou em entrevista ao WW o que ele chama de “divórcio” entre estas duas esferas cruciais da política brasileira.
Alinhamento Contraditório
Segundo Brustolin, enquanto a diplomacia brasileira busca um alinhamento com potências como Rússia e China, a política de defesa do país continua fortemente ligada aos países da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
“O Brasil, em 2021, estava fazendo exercícios com países da OTAN no Mar Negro, que hoje é teatro de operações da guerra da Rússia contra a Ucrânia”, exemplificou o especialista.
O professor ressaltou que o Brasil adquire equipamentos militares de países da OTAN desde a Segunda Guerra Mundial. Ele citou exemplos como veículos do exército da Itália, equipamentos navais da França, caças Gripen da Suécia e colaboração com os Estados Unidos no programa espacial brasileiro.
Desafios Práticos
Brustolin argumenta que esta divergência cria desafios práticos para o Brasil. “O Brasil não tem nem munição para projetar poder para ajudar a China a invadir Taiwan”, afirmou, ilustrando a inviabilidade de um alinhamento militar efetivo com potências como China e Rússia no curto prazo.
O especialista enfatiza que, para um alinhamento coerente com Rússia e China, o Brasil precisaria primeiro alinhar sua política de defesa, incluindo a produção de equipamentos compatíveis e treinamento conjunto de tropas, um processo que levaria décadas.
“Não adianta a gente ir para um lado com a política externa e para o outro com a política de defesa, as duas têm que andar juntas”, concluiu Brustolin, ressaltando a necessidade de uma estratégia mais coesa e de longo prazo para a posição do Brasil no cenário internacional.
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