A revanche histórica entre Joe Biden e Donald Trump é tudo, menos uma reprise. O primeiro debate da corrida presidencial dos Estados Unidos será realizado pela CNN nesta quinta-feira (27), trazendo questões que pairam sobre o duelo pesado pela Casa Branca.
Parece que uma vida inteira se passou — e que o mundo virou de cabeça para baixo nesse meio tempo — desde que Biden e Trump apareceram juntos pela última vez em um palco de debate.
Em 2020, a pandemia do coronavírus estava no auge, e a Presidência caótica de Trump estava no centro dela. Agora, os feitos de Biden estão sendo observados no microscópio em igual medida, mesmo que o democrata ainda se apresente como uma alternativa mais segura.
Possíveis argumentos no debate
Com o novo embate Biden-Trump, um conjunto totalmente novo de lutas vem surgindo nas campanhas e em anúncios na TV, dando uma pista de alguns dos argumentos que provavelmente serão usados pelos dois no debate da CNN nesta quinta.
Trump fez um alerta forte a eleitores Wisconsin sobre um mundo instável e, na sua opinião, uma Presidência também instável de Biden, dizendo: “Vamos acabar na 3ª Guerra Mundial com esta pessoa. Ele é o pior presidente que já existiu”.
Um novo anúncio de Joe Biden, por outro lado, não economiza palavras sobre a condenação de Trump em 34 acusações no final de maio.
“Esta eleição é entre um criminoso condenado que só se pensa em si mesmo e um presidente que está lutando pela sua família”, declara o narrador no anúncio, que faz parte de uma campanha publicitária de US$ 50 milhões.
As mensagens não só cristalizam como cada um apresenta a própria candidatura, mas também sublinham o quanto o país, o mundo e, claro, os próprios candidatos mudaram nos últimos quatro anos.
A campanha de 2024 será muito diferente, mesmo que tenha os dois candidatos de 2020, já que abordará uma insurreição violenta, a persistência do tema da integridade das eleições e uma nova luta sobre os direitos ao aborto depois que a Suprema Corte americana derrubou a decisão história Roe v. Wade.
Além disso, acontece em meio à guerra da Rússia com a Ucrânia, a situação cada vez mais tensa no Oriente Médio e a complicada questão do papel dos EUA no mundo.
Economia e imigração em foco
Acima de todas essas questões distintas e outras mais, a economia e a imigração estão entre as principais preocupações dos eleitores.
A inflação, um ponto que complicou o argumento econômico de Biden, certamente estará no centro de tudo isso.
Nesse contexto, a pergunta aos eleitores às vésperas do primeiro debate, independe de lado, será: Os americanos estão melhor agora do que estavam há quatro anos?
A questão se tornou um verdadeiro teste para os partidários, com ambos os lados esperando que seu candidato possa ter um argumento vencedor nesta quinta-feira.
O deputado republicano Mike Waltz, da Flórida, disse que, com o Oriente Médio “em chamas”, Trump pode afirmar que deixou o cargo com maior segurança global.
“É o que sairá deste debate: como era o mundo sob Trump e como é agora com o caos sob Joe Biden”, Waltz ponderou à CNN.
Enquanto isso, os democratas têm tentado lembrar os eleitores da desordem que engoliu a Casa Branca de Trump, particularmente durante o último ano da sua Presidência.
Um novo anúncio da campanha de Biden, exibido em inglês e espanhol durante o torneio de futebol da Copa América, começa com imagens de arenas vagas e negócios fechados.
“Há quatro anos, ficamos fechados. Os estádios estavam vazios. Trump falhou conosco. Mas então Joe Biden assumiu”, fala o narrador.
O fator idade
Seja o vencedor das eleições Trump, de 78 anos, ou Biden, de 81 anos, ele será o presidente mais velho a tomar posse nos EUA, em janeiro de 2025.
Isso coloca a idade e as boas condições de saúde para o cargo entre uma das questões mais importantes da disputa eleitoral.
Mais de metade dos adultos norte-americanos dizem que os dois são velhos demais para outro mandato, de acordo com uma pesquisa da ABC News/Ipsos de abril, que mostrou um aumento de 10 pontos nesse quesito em comparação com o ano passado.
Os levantamentos mostram que há mais receio em relação às capacidades de Biden.
Embora Trump e os seus aliados tenham passado meses descrevendo Biden como um político apático e hesitante, recentemente eles vêm se empenhando numa redefinição das expectativas diante do debate.
O republicano sugeriu que o democrata estaria “ligado” para o debate, antes de insinuar, sem qualquer evidência, que o presidente usa cocaína.
Trump citou a descoberta, no ano passado, de um pequeno saco de cocaína na Casa Branca, embora tenha dito incorretamente que o fato aconteceu no mês passado. O Serviço Secreto dos EUA investigou o assunto e não conseguiu identificar um suspeito.
Mudança de abordagem de Trump
Ainda assim, em uma entrevista ao podcast “All-In” que foi ao ar na semana passada, o ex-presidente afirmou que o atual chefe de Estado seria um “debatedor digno” e que não queria subestimá-lo.
A mudança de abordagem surge no meio de preocupações entre alguns conselheiros Trump de que os republicanos estabeleceram uma régua muito baixa para o desempenho de Biden, exatamente como aconteceu nas vésperas do discurso do Estado da União deste ano.
“Trump vai querer se posicionar como o ‘alfa’ e o candidato mais ativo, enérgico e no controle. Alguém que é saudável e tem vigor”, opinou Brian Bartlett, estrategista republicano que trabalhou na campanha presidencial de Mitt Romney em 2012.
“Veremos se esse encontro corresponde à realidade. Se Trump insistir nesses pontos [a inaptidão ou fraqueza do concorrente] e Biden tiver uma boa noite, isso não vai cair bem”, ponderou.
Já Biden e os seus aliados têm lidado de forma bem direta com a fraqueza percebida do candidato.
“Joe e o outro cara têm basicamente a mesma idade”, pontuou a primeira-dama Jill Biden. “Não vamos nos enganar. É do que se trata essa eleição, é sobre o caráter da pessoa que lidera o nosso país”, acrescentou.
Importância da opinião pública
Para os candidatos buscando reeleição, a opinião pública pode ser devastadora.
A “favorabilidade” de Biden caiu 11 pontos em quatro anos, com quase seis em cada dez americanos tendo uma visão desfavorável a seu respeito, de acordo com as pesquisas da CNN de setembro de 2020 e abril de 2024.
As percepções sobre Trump mudaram muito menos, com mais de metade das pessoas ouvidas o vendo de forma desfavorável.
Assim, os debates televisivos têm sido uma parte célebre das campanhas presidenciais modernas.
“É o desafio para o presidente Trump: sair da frente e forçar Biden a defender os feitos dos últimos quatro anos”, afirmou Brett O’Donnell, um estrategista republicano que passou anos preparando candidatos, incluindo rivais de Trump, para debates.
“O desafio para Biden”, continuou O’Donnell à CNN, “é, na verdade, irritar Trump e fazê-lo o interromper, lembrando às pessoas algumas das qualidades de Trump que consideram menos cativantes”.
Debate histórico e programa especial
Joe Biden e Donald Trump farão história no dia 27 de junho, no primeiro debate presidencial entre um presidente e um ex-presidente dos Estados Unidos.
Será também o primeiro debate desde 2020 tanto para Biden quanto para Trump.
A CNN Brasil transmitirá o debate entre Joe Biden e Donald Trump nesta quinta-feira (27), com um programa especial a partir das 21h, no horário de Brasília. Será possível acompanhar através do canal 577 e do YouTube da CNN Brasil.
Betsy Klein e Kate Sullivan da CNN contribuíram na reportagem.
Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.
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