Jovem Pan > Notícias > Brasil > ONU pede investigação independente sobre operação no Rio de Janeiro

Órgão pede que as autoridades brasileiras realizem uma investigação rápida, com o objetivo de ‘garantir responsabilização pelos fatos, interromper violações de direitos humanos e assegurar proteção a testemunhas’

  • 31/10/2025 16h44

EFE/EPA/LUKAS COCH AUSTRÁLIA E NOVA ZELÂNDIA FORA

Uma bandeira das Nações Unidas tremula do lado de fora da sede da ONU em Nova York, EUA, em 21 de setembro de 2025. Austrália, Canadá e Grã-Bretanha reconheceram formalmente o estado da Palestina, anunciaram os respectivos primeiros-ministros dos países em 21 de setembro de 2025. (Reino Unido, Nova York) EFE/EPA/LUKAS COCH AUSTRÁLIA E NOVA ZELÂNDIA FORA

Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU) expressa ‘profunda preocupação’ com a operação policial mais letal já registrada no Brasil

O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU), com sede em Genebra, divulgou nesta sexta-feira (31) uma nota oficial expressando “profunda preocupação” com a operação policial mais letal já registrada no Brasil, que deixou ao menos 120 mortos, entre eles quatro policiais, nas comunidades do Complexo do Alemão e do Complexo da Penha, ambos na zona norte do Rio de Janeiro.

Na manifestação, os especialistas da ONU pedem que as autoridades brasileiras realizem uma investigação independente e rápida, com o objetivo de: ‘’garantir responsabilização pelos fatos, interromper violações de direitos humanos e assegurar proteção a testemunhas, familiares das vítimas e defensores de direitos humanos’’.

“Estamos particularmente preocupados com as represálias contra as famílias e testemunhas. As autoridades devem garantir sua vida, segurança e integridade pessoal, e impedir qualquer forma de intimidação, assédio ou criminalização”, afirmam os especialistas. “É responsabilidade das autoridades preservar o local para posterior exame forense”.

De acordo com o comunicado, a operação que foi denominada “Operação Contenção” e deflagrada no dia 28 de outubro de 2025, ‘’ atingiu comunidades habitada majoritariamente por pessoas negras e de baixa renda’’. Os relatores da ONU afirmam ter recebido denúncias de que corpos foram encontrados com as mãos amarradas e marcas de tiros na nuca, além de relatos de invasões domiciliares sem mandado judicial, prisões arbitrárias e uso de helicópteros e drones para efetuar disparos.

“A escala da violência, a natureza dos assassinatos relatados e as consequências para as comunidades pobres afrodescendentes que vivem em áreas periféricas urbanas expõem um padrão profundamente arraigado de policiamento racializado”, diz a nota.

No comunicado, os especialistas elencam uma série de medidas urgentes que o Brasil deve adotar. Entre elas:

  •     “Suspender operações com uso desproporcional da força, evitando novas mortes de civis;”
  •     “Garantir proteção a testemunhas, familiares e defensores de direitos humanos contra retaliações e processos arbitrários;”
  •     “Preservar provas e a cadeia de custódia em casos de homicídio;”
  •     “Realizar investigações periciais independentes, conforme padrões internacionais;”
  •     “Cumprir normas globais sobre o uso da força e punir adequadamente casos de abuso policial”;

A ONU lembra que episódios de violência policial no Brasil já haviam sido motivo de alerta por parte de organismos internacionais de direitos humanos. “Este trágico acontecimento ressalta a necessidade urgente de o Brasil rever suas políticas de segurança, que continuam a perpetuar um modelo de violência policial brutal e racializada. As autoridades brasileiras devem romper com o legado de impunidade que caracterizou eventos semelhantes no passado”, alertam.

Em relatório divulgado em 2024, o mesmo grupo de especialistas destacou que a política de segurança pública brasileira se baseia em repressão, violência e “hipermasculinidade”, apontando que mais de seis mil pessoas morrem por ano em ações policiais, a maioria negra e moradora de periferias.

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“Essas mortes, muitas vezes em operações que visam ‘criminosos’, são generalizadas e sistemáticas, funcionando como uma forma de limpeza social contra grupos marginalizados”, afirmam os relatores.

As preocupações dos especialistas foram formalmente encaminhadas ao governo brasileiro por meio de uma carta. O documento que tem caráter público, solicita ao Brasil, informações sobre as medidas adotadas para garantir responsabilização, reparação e justiça às vítimas e seus familiares.

*Com informações da Agência Brasil
Publicado por Nícolas Robert

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  • brasil, ONU, Rio de Janeiro

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